Os jogos de RPG (Role-Playing Games) são hoje um dos mais populares gêneros de entretenimento, abrangendo desde jogos de mesa até videogames de grande sucesso. No entanto, nem todos sabem que o RPG tem suas raízes nos jogos de guerra, também conhecidos como wargames. Esses jogos estratégicos foram fundamentais para o surgimento das mecânicas e conceitos que dariam origem ao primeiro RPG moderno, o Dungeons & Dragons (D&D), criado por Gary Gygax e Dave Arneson na década de 1970. Neste artigo, vamos explorar como os jogos de guerra influenciaram o RPG e moldaram o que conhecemos hoje como role-playing game.
Os jogos de guerra existem há séculos, com registros que remontam à Antiguidade. Exércitos utilizavam tabuleiros e miniaturas para simular estratégias de batalha. Um dos primeiros jogos conhecidos desse tipo foi o Kriegsspiel, criado na Prússia do século XIX para treinar oficiais militares. Esses jogos eram complexos e envolviam regras detalhadas para representar exércitos, terrenos e táticas militares.
Durante o século XX, os wargames se tornaram populares entre entusiastas da estratégia. Jogos como Little Wars (1913), de H.G. Wells, permitiam que os jogadores recriassem batalhas históricas com miniaturas. Nos anos 1950 e 1960, os jogos de guerra evoluíram com sistemas de regras mais elaborados, culminando em títulos como Tactics (1954), que influenciou muitos designers de jogos futuros.
No final da década de 1960, um jogo chamado Chainmail (1971), desenvolvido por Gary Gygax e Jeff Perren, revolucionou os wargames ao incluir regras para combates medievais e elementos fantásticos, como magia e criaturas mitológicas. Foi um dos primeiros sistemas a permitir que jogadores controlassem personagens individuais em vez de exércitos inteiros.
Dave Arneson, um dos pioneiros do RPG, adaptou as regras de Chainmail para criar uma campanha chamada Blackmoor, na qual os jogadores assumiam o papel de heróis explorando um mundo de fantasia. Essa ideia evoluiu para um novo tipo de jogo onde não se tratava apenas de simular batalhas, mas também de desenvolver personagens, contar histórias e resolver desafios de forma criativa.
A colaboração entre Gygax e Arneson resultou na criação de Dungeons & Dragons (1974), considerado o primeiro RPG da história. Ele combinava elementos dos wargames tradicionais com um novo conceito de narrativa interativa e desenvolvimento de personagens. Em vez de apenas mover unidades em um tabuleiro, os jogadores agora interpretavam papéis (daí o nome Role-Playing Game) e tomavam decisões baseadas na personalidade e nas habilidades de seus personagens.
O sucesso de Dungeons & Dragons deu início a uma nova era de jogos, levando à criação de outros sistemas de RPG de mesa e, posteriormente, influenciando o desenvolvimento de RPGs eletrônicos, como Final Fantasy, The Elder Scrolls e Baldur's Gate.
Embora os RPGs tenham se expandido para incluir elementos de fantasia, ficção científica e terror, muitos sistemas ainda preservam mecanicas herdadas dos jogos de guerra:
Uso de Miniaturas: Muitos RPGs de mesa, como Dungeons & Dragons, ainda usam miniaturas para representar personagens e inimigos em combate.
Sistema de Turnos: O combate baseado em turnos, comum em RPGs de mesa e eletrônicos, foi adaptado diretamente dos wargames.
Regras de Movimento e Terreno: RPGs táticos utilizam regras inspiradas nos jogos de guerra para determinar deslocamento e interação com o ambiente.
Probabilidades e Dados: O uso de dados para determinar o sucesso de ações e ataques veio dos sistemas matemáticos empregados nos wargames.
A história dos RPGs está intrinsecamente ligada aos jogos de guerra. Sem os wargames, provavelmente não teríamos Dungeons & Dragons e o vasto universo de RPGs modernos. A evolução de simples simulações militares para um gênero que permite contar histórias e explorar mundos imaginários é um dos maiores marcos da indústria dos jogos. Hoje, seja nos tabuleiros, nos livros ou nos videogames, a influência dos jogos de guerra ainda pode ser vista e apreciada por jogadores do mundo inteiro.