Pântano das Vozes

Imagem de Solaria


Escondido nas profundezas mais úmidas da Floresta Carmesim, onde os galhos se entrelaçam como dedos antigos e o céu parece sempre coberto por um véu de cinza pálido, estende-se o lendário Pântano das Vozes — uma terra ancestral e sagrada, onde a própria natureza sussurra segredos esquecidos.

Ali, o chão é traiçoeiro: uma mistura de lama escura e musgo encharcado que engole os passos descuidados sem aviso. Pequenos charcos espelham o céu nublado, mas suas águas turvas escondem mais do que se pode ver. Bolhas emergem em intervalos irregulares, estourando com sons que, segundo os mais antigos, são palavras antigas, fragmentos de memórias ou advertências dos espíritos.

A névoa é constante, densa, quase viva — envolvendo tudo com dedos frios e úmidos, obscurecendo formas, distorcendo distâncias. Dentro dela, é fácil se perder... ou ser encontrado por aquilo que nela habita. Os híbridos creem que os ancestrais nunca abandonaram este mundo completamente. Suas vozes ecoam nos estalos da lama, no sibilar dos ventos cortando os juncos altos, no leve tilintar das folhas caídas quando ninguém está por perto.

O Pântano é um lugar de escuta e silêncio, de provação e revelação. Os caçadores híbridos mais devotos vêm até aqui em rituais solenes, deitarem-se entre os charcos, olhos fechados, corações abertos, na esperança de ouvir os conselhos daqueles que vieram antes. Dizem que os que escutam com respeito podem receber visões, encontrar respostas ou ser guiados por luzes etéreas flutuando entre os vapores. Mas há um risco: escutar demais pode fazer com que a própria alma se perca no sussurro eterno da lama.

Espíritos antigos, de nomes esquecidos, caminham lentamente entre as raízes e as águas, invisíveis à maioria, mas sentidos por aqueles sensíveis à essência do pântano. Alguns assumem formas de animais pantanosos — rãs com olhos humanos, aves que falam nomes antigos, serpentes com escamas rúnicas — enquanto outros manifestam-se apenas como vozes envolventes, hipnóticas, convidativas.

Nas noites sem lua, o Pântano das Vozes brilha com uma luminescência fantasmagórica, como se cada gota de orvalho carregasse memórias. É nesses momentos que os mais ousados híbridos realizam os rituais de invocação, desenhando círculos com lama e sangue, invocando os ecos do tempo para responderem perguntas sobre o destino, a guerra ou o coração.

Contudo, não se entra nesse pântano impunemente. Aqueles que chegam com dúvidas impuras, ganância ou zombaria no coração costumam desaparecer sem deixar rastros — ou pior, retornam mudos, com olhos vítreos e a alma perdida em algum canto esquecido entre os vapores.

O Pântano das Vozes não é apenas um local de passagem. É um lugar onde o passado conversa com o presente, onde a morte instrui a vida, e onde o silêncio pode gritar mais alto do que qualquer guerra. Somente os híbridos mais antigos, guardiões do sagrado, sabem caminhar por suas águas sem afundar. E mesmo eles, ao entrar, sussurram uma prece — não para pedir proteção, mas para lembrar aos espíritos que ainda pertencem ao mundo dos vivos.

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