Narak’Thul é um pesadelo materializado, uma cidade que não deveria existir, mas que persiste à margem da realidade, desafiando toda lógica e sanidade. Oculta nas profundezas de um vale sombrio, esquecida até mesmo pelos deuses, a cidade é um monumento à decadência e ao horror primordial. Envolta em névoas tóxicas que queimam a pele e corroem a mente, Narak’Thul não apenas repele visitantes, mas os devora lentamente, sugando-lhes a alma antes mesmo de cruzarem seus portões. Diz-se que os que ousam se aproximar começam a ouvir sussurros antes mesmo de verem suas torres distorcidas no horizonte—vozes suaves, melancólicas, repletas de promessas vazias e segredos que nunca deveriam ser revelados.
A arquitetura da cidade é um atentado à razão. Não há simetria, não há harmonia, apenas formas distorcidas e prédios retorcidos que desafiam qualquer noção de estabilidade. As edificações não são feitas de pedra ou madeira, mas sim de materiais impensáveis—ossos colossais de criaturas ancestrais, carne petrificada de horrores esquecidos e exoesqueletos fossilizados de monstros cujo tamanho desafia a imaginação. As paredes parecem pulsar em um ritmo lento, como se a cidade inteira fosse um ser vivo, respirando, esperando. Estruturas se erguem em ângulos impossíveis, algumas dobrando-se sobre si mesmas, outras se estendendo como garras afiadas para o céu permanentemente encoberto por nuvens púrpuras.
Do solo, fendas negras se abrem, revelando tentáculos grotescos que emergem em busca de qualquer coisa viva para se agarrar. Essas monstruosidades parecem ser parte do próprio chão, como se a cidade estivesse tentando absorver tudo ao seu redor. Ninguém sabe se essas entidades são uma manifestação da própria Narak’Thul ou se foram aprisionadas ali há milênios, condenadas a uma eternidade de fome insaciável.
O ar da cidade é denso, pegajoso, carregado de um cheiro pútrido que mistura decomposição com algo mais antigo e inexplicável. Respirá-lo por muito tempo não apenas sufoca, mas também intoxica a mente. A realidade dentro da cidade se distorce de formas sutis e traiçoeiras—os dias nunca seguem uma ordem lógica, o tempo parece avançar e retroceder sem aviso, e os próprios caminhos se alteram quando ninguém está olhando. Aqueles que tentam fugir muitas vezes descobrem que as ruas pelas quais vieram simplesmente desapareceram, substituídas por becos sem saída ou escadarias que levam a lugar nenhum.
Os poucos que sobreviveram à jornada até Narak’Thul falam sobre uma sensação inescapável de serem observados. Algo está ali, sempre presente, mesmo que nunca possa ser visto. Sombras se movem sem fontes de luz, olhos surgem e desaparecem nas rachaduras das paredes, e reflexos distorcidos sussurram segredos aos que ousam encará-los por muito tempo. Às vezes, a própria cidade fala—palavras que não pertencem a língua alguma conhecida, mas que ecoam nos ossos e nas mentes dos desavisados, levando-os ao limite da loucura.
Aqueles que entram em Narak’Thul sem permissão sentem sua própria sanidade se dissolver lentamente, como uma chama sendo apagada pelo vento. Os primeiros sintomas são sutis—uma leve tontura, um arrepio na nuca, um eco persistente no fundo da mente. Mas, com o tempo, as alucinações se tornam inescapáveis. Os edifícios parecem se curvar para sussurrar palavras proibidas, sombras ganham forma e perseguem os intrusos, e o próprio chão se torna um mar de rostos contorcidos, clamando por ajuda.
Os que permanecem por tempo demais… nunca mais voltam os mesmos. Muitos simplesmente desaparecem, tragados pela própria cidade. Outros são encontrados vagando pelos ermos, olhos vazios, mentes quebradas, murmurando sobre horrores que ninguém mais pode compreender. Alguns sobreviventes retornam fisicamente intactos, mas suas vozes não pertencem mais a eles—sussurram coisas em línguas esquecidas, pronunciam nomes que fazem o próprio ar vibrar com uma energia profana.
Há aqueles que acreditam que Narak’Thul não foi construída, mas sim descoberta. Uma ruína de algo que existiu antes do mundo, antes do tempo, uma cicatriz deixada por entidades que nunca deveriam ter existido. Outros afirmam que a cidade é um organismo vivo, um predador cósmico esperando pelo momento certo para se erguer e devorar tudo o que existe. Mas independentemente de sua origem, uma coisa é certa: Narak’Thul não é um lugar para os vivos. É um túmulo, um labirinto de horrores ancestrais, uma armadilha que se alimenta do medo, da dor e da insanidade.
E aqueles que escutam seu chamado jamais conseguem ignorá-lo.